A vereadora Edna Sampaio (PT) recebeu nesta sexta (11), em Cuiabá a vereadora por Sinop, Graciele Marques, do mesmo partido. O objetivo foi gravar uma entrevista para um novo canal que está sendo criado pela parlamentar cuiabana, onde vai transmitir entrevistas e matérias sobre temas da atualidade.
Graciele é alvo de ameaças de bolsonaristas e elas se intensificaram desde o final de maio, quando ela foi apontada como uma das financiadoras da publicação de outdoors com críticas ao presidente Jair Bolsonaro na cidade.
Elas analisaram como as dificuldades que enfrentam no dia a dia da Câmara para discutir projetos, debater temas de interesse coletivo, são motivadas pelo machismo, um dos pilares da sociedade.
Conversaram sobre as proposições que já apresentaram e o modo como tramitam nas Câmaras, destacando diversas situações em que houve silenciamento de sua manifestação, seja verbalmente, através da burocratização dos processos ou pela desqualificação de suas intervenções.
Os desafios têm a ver com a violência de gênero, o racismo e os interesses econômicos que cercam a atividade política, e que demonstram a falta de espaço da mulher enquanto defensora de suas pautas, sendo constantemente desqualificada em suas competências.
Um cenário que impede o avanço da discussão de políticas públicas, prejudicando a população.
“Quando vim para cá, sabia que iria enfrentar machismo. Basta olhar para os espaços da política para ver que, em Cuiabá, assim como em Sinop, não havia mulher na Câmara, que apenas agora conseguimos eleger em Sinop a Graciele e aqui eu e a Michele, para saber que se trata de uma instituição machista”, disse Edna Sampaio, em um dos trechos da gravação.
“O machismo é uma instituição histórica e o espaço da política é o espaço, por excelência, do machismo porque são os homens que dominam a política”.
Segundo Graciele, nos últimos dias, os ataques reduziram, mas não cessaram. Ela registrou Boletim de Ocorrência e ingressou com ação, juntamente com a vereadora Edna Sampaio, no Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF-MT), pedindo punição aos agressores e proteção à sua vida.
“Diminuíram um pouco os ataques, mas ainda recebo alguns, tanto publicamente explícito quanto por mensagens privadas. Algumas pessoas, a gente consegue identificar quem é; algumas têm perfil fake”, disse ela.
A violência de gênero fica clara na forma como as agressões foram seletivas, visando aingir um mandato feminino.
“Esses ataques foram muito direcionados a mim enquanto mulher que está no espaço de poder, e isso mostra o quanto a nossa sociedade ainda é machista porque tínhamos várias pessoas envolvidas, inclusive homens, na organização da atividade”, disse Graciele.
“Este cenário mostra a necessidade de levarmos para as pessoas que elas precisam respeitar o direito de expressão eu acho que esse programa que a Edna está se propondo a fazer agora ele ajuda muito nisso”.
Edna também argumenta que a violência contra a mulher tem a ver com o exercício do poder. “Pensamos que a violência de gênero vem do fato de sermos mulheres, mas para além disso é pelo fato de que nós constituímos a maioria da população e estamos excluídas dos espaços de poder, então para que os homens continuem dominado a política, não podem permitir que nós entremos”, disse.
Em Cuiabá, Graciele também foi conhecer o trabalho das mulheres do Imune, no espaço cultural Casa das Pretas, onde foi recebida pela coordenadora, Antonieta Luisa Costa.
Entre tantas outras ações, o espaço é um ponto de arrecadação de alimentos para famílias de baixa renda, uma ação em parceria com o coletivo Coalização Negra por Direitos.
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