Nunca antes, no município de Cuiabá, pelo menos, não durante as minhas três décadas de existência sob este solo em que fui gerado, vi um movimento como este que acontece hoje. Não vi nenhum outro prefeito propor um projeto de lei que pensasse nessa população que aparenta ser invisível perante o poder público. Penso muito no porquê de nunca antes outro gestor ter considerado a criação de uma política que atendesse tal grupo que é visto, diariamente, pelas ruas da nossa querida capital.
Nossa história foi construída através de um processo de migração que ocorreu há mais de 300 anos. Eram portugueses, espanhóis e diversos povos africanos que aqui chegavam, para construir a nossa cuiabania, miscigenada e de linguajar marcante.
Agradeço profundamente a vereadora Edna Sampaio, em nome de todo o Grupo de Trabalho Política para Migrantes, por abrir uma porta antes fechada para o diálogo com o povo migrante desta geração de novos cuiabanos, sim, digo cuiabanos, porque eles escolheram este chão para chamá-lo de seu.
Aqui estão construindo um futuro, não só para si, mas para todos nós, demonstrando na prática algo que está estampado na bandeira haitiana: “a união faz a força”. É através da fraternidade que avançamos, evoluímos e nos desenvolvemos rumo a um mundo onde todos podem viver com dignidade, respeito e justiça social.
Penso: também sou migrante. Penso em nossos tataravós, bisavós e avós, quiçá nossos pais, que deixaram seu país de origem para construir um futuro em uma terra distante chamada Brasil. Penso em seus anseios, seus receios, seus medos e suas angústias diante do desconhecido. Penso em suas dores, seus temores, seus planos que tiveram que ser deixados de lado, a fim de se reinventarem e viverem novos projetos.
Penso nas perguntas sem respostas, nos sonhos frustrados, nas expectativas não alcançadas. Penso na saudade dos seus, no tanto que se perdeu, na luta diária para recomeçar e reconstruir. Enfim, penso que todos nós, brancos, negros, amarelos, indígenas, povos tradicionais... Somos frutos de uma partida, carregamos no sangue a herança de uma diáspora.
Penso, afinal, que somos todos migrantes!
Rafael Lira - Associação de Defesa dos Haitianos Imigrantes e Migrantes em Mato Grosso (ADHIMI), co-vereador do Mandato Coletivo pela Vida e por Direitos
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