Em discurso de posse, Edna denuncia violência política de gênero e recebe apoio
- Neusa Baptista

- 14 de ago.
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Por: Neusa Baptista
Fotox: Dizão Leão
No seu discurso de posse na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, a deputada Edna Sampaio (PT) abordou suas origens, sua atuação em movimentos sociais e em defesa dos direitos humanos, enfatizando a importância da democracia e do combate à violência contra as mulheres.
A deputada expressou gratidão pelos mais de 16 mil votos recebidos, destacando a honra de representar descendentes de negros e indígenas, dos quais ela própria descende.
A deputada expressou gratidão pelos 16,4 mil votos recebidos em mais de 130 municípios. Ela ressaltou a honra em representar descendentes de negros e indígenas, que constituem a maioria da população e dos quais ela mesma descende.
Ela expressou sua defesa intransigente da democracia, ressaltando que, ao longo de sua trajetória como servidora pública, sempre esteve engajada nas lutas da classe trabalhadora. Enfatizou que a democracia representa uma conquista forjada no sofrimento de inúmeros povos e que, atualmente, encontra-se ameaçada pelas investidas da extrema-direita no país.

“A política se transformou numa guerra sem precedentes. Os discursos de ódio e a mentira passaram a ser instrumentos de uma conduta sem qualquer ética pública, sem qualquer compromisso com a verdade, com a vida das pessoas. Nessa guerra discursiva que a extrema direita inventou para mobilizar a violência e sufocar as consciências, as primeiras vítimas são as mulheres”, afirmou.
Ela destacou que os índices de feminicídio no país são uma consequência direta da exclusão social, resultado de políticas que negligenciam as necessidades das mulheres.
“Em 2023 e 2024, Mato Grosso teve a maior taxa de feminicídio do país: 2,5 mortes por 100 mil habitantes, contra 1,4 no Brasil. Foram 46 feminicídios em números absolutos. Já entre janeiro e maio de 2025, o estado registrou 17 casos, um aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. Há em curso uma guerra de homens misóginos contra a vida das mulheres”, disse.Também citou a violência contra pessoas LGBTQIA+, exemplificando que os casos saltaram de 315 casos em 2023 para 416 em 2024.

Edna criticou a militarização das escolas, associando-a a um projeto que aprofunda a violência, inclusive contra as mulheres. "Militarizar escolas é perpetuar a própria violência de Estado. Uma sociedade que ama e respeita as mulheres não pode ter como projeto colocar armas e disciplina militar nos espaços que deveriam ensinar paz e convivência. Escola é lugar de construir cultura de paz. As forças policiais existem para reprimir e conter quando a vida ameaça outras vidas. Educação existe para expandir horizontes, cultivar o respeito e formar cidadãos capazes de transformar o mundo", defendeu.
A deputada relembrou a violência vivenciada na Câmara Municipal de Cuiabá, onde foi alvo de um processo de cassação ilegal, motivado pela atuação da extrema-direita, com viés racista e misógino. Ela comparou sua situação à de outros vereadores que, apesar de condutas que justificariam a cassação, receberam tratamento mais favorável.

"Essa diferença de tratamento entre uma mulher negra que nunca cometeu crime e homens investigados pela justiça, são provas do machismo e do racismo estruturais. O único crime que cometi foi ter nascido mulher negra, num estado lamentavelmente racista que impõe às mulheres muita violência e, 60% das vítimas de feminicídio são mulheres negras", declarou.
Apoio e Representatividade
O deputado Wilson Santos (PSD) relembrou as origens humildes da deputada, os desafios enfrentados por ela como mulher negra e pobre, e criticou o processo de cassação de seu mandato. "Ela foi vítima de uma tremenda armação no parlamento dessa cidade. A cassaram sem argumento, sem consistência nenhuma porque ela incomodava os donos do poder do parlamento municipal, mas a mão de Deus é perfeita. Veja onde está o seu algoz hoje, deputada", disse ele, referindo-se ao vereador afastado Chico 2000, investigado por desvio de recursos e cobrança de propina.
O deputado Lúdio Cabral (PT) destacou que, em 190 anos de parlamento, apenas 11 mulheres ocuparam assento na Assembleia Legislativa como titulares, ressaltando o fato de Edna Sampaio ser a primeira mulher negra a ocupar esse espaço. "Sua presença no parlamento preenche uma lacuna de representatividade, o que exige reflexão de todos nós. Sua presença aqui representa o preenchimento de uma lacuna na representação das mulheres que por aqui passaram, que aqui estão e que se esforçam para dar conta dessa tarefa. Sua presença soma-se a esse esforço", afirmou.

CPI da Violência Contra a Mulher
Edna Sampaio anunciou que protocolará um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as responsabilidades dos entes federados sobre o cenário de violência contra a mulher no estado. Os deputados Lúdio Cabral (PT), Valdir Barranco (PT) e Wilson Santos (PSD) já se comprometeram a assinar o pedido.
"Espero que a Assembleia no seu conjunto compreenda a importância desta CPI e a contribuição que essa iniciativa pode dar aos poderes no estado de Mato Grosso, mas também à União. Saber mapear os processos pelos quais as mulheres sofrem violência e recorrem ao estado e de que maneira são acolhidas", explicou a deputada.




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