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Ciclovias para quem?


Desde minha chegada em Mato Grosso, nos anos 1980, preocupo me com os problemas referentes à mobilidade urbana em Cuiabá e Várzea Grande. Vinda do Sul, tinha o hábito de utilizar o ônibus como meio de transporte, chegando aqui enfrentei dificuldades. À época era compreensível que o transporte público fosse inadequado, a população crescia vertiginosamente, as cidades se esparramavam e o sistema de transporte não acompanhava tal dinâmica.


Passaram-se 40 anos e os problemas de mobilidade se agravaram. Refiro-me aqui a todos os tipos de modais, não há sequer um modal que seja adequado. Acontece a competição entre veículos automotores de diversos tipos e portes com bicicletas e mesmo com pedestres. Enfim, não há espaço delimitado e definido para cada tipo de modal. O Código Nacional de Trânsito nem sempre é cumprido no que diz respeito à hierarquia quando trata que os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos de menor, os motorizados pelos não motorizados e todos pela integridade dos pedestres.


Uma boa solução para a mobilidade nas nossas cidades, além dos próprios pés, seriam as bicicletas, porém, ao analisarmos as vias existentes para o modal, concluímos ser quase intransponíveis os acessos aos locais de estudo, trabalho ou compras com esse veículo. A grande Cuiabá é praticamente plana, perfeita para o uso da bicicleta. Cuiabá possui poucas colinas, nada tão íngreme que impossibilite a utilização. Quanto à Várzea Grande, o nome já bem diz, está sobre uma várzea e assim não há grandes alturas a serem vencidas.


Pergunto-me: Qual é a dificuldade em implantar e manter ciclovias e ciclofaixas dando mais uma opção de locomoção aos cidadãos? É tão mais oneroso aos cofres públicos a construção de ciclovias ou adequação de ciclofaixas que as grandes obras de engenharia necessárias para acomodar maior número de veículos automotores? Por que razão não são dadas as devidas manutenções nas ciclovias existentes? A economia feita pelo cidadão com a utilização da bicicleta como meio de transporte não é considerada pelos gestores?


Esses podem até alegar que nos últimos tempos têm sido construídas pistas para bicicletas, mas continuo com as minhas indagações. A quem serve as ciclovias construídas recentemente? Ao trabalhador? Ao estudante? Ou apenas ao lazer de quem utiliza seus veículos particulares a semana inteira e precisa se exercitar nos finais de semana?


Entendo como louvável a iniciativa, mas também observo que onde há a necessidade da utilização como modal de transporte as pistas estão em péssimas condições, a exemplo, as Avenidas Profª Edna Affi, Archimedes Pereira Lima e Fernando Correa. Locais onde residem a grande massa trabalhadora de Cuiabá e que se deslocam diariamente por ônibus lotados e caros, e que certamente substituiriam as bicicletas caso sentissem segurança.


Em contraponto, observo a via de lazer na Avenida Helder Cândia bonita, sinalizada e iluminada para passeios de fim de semana, assim como o acesso à Vila Coxipó do Ouro, inaugurado recentemente. Nada contra a utilização de bicicletas para lazer ou exercícios, mas, totalmente favorável a extensão das ciclovias e ciclofaixas para proporcionar a sua utilização por todos os cidadãos, como modal de transporte seguro, econômico e sustentável, conforme preceitua os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável a serem atingidos até o ano 2030 visando a melhoria da qualidade de vida nas cidades.


Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, membro da Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (AAU-MT), co-vereadora do Mandato Coletivo pela Vida e por Direitos.




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