“A política é um componente essencial da minha vida”, diz Edna Sampaio
- Neusa Baptista
- 11 de ago.
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Em entrevista nesta segunda-feira (11) à rádio Metrópole FM, Edna Sampaio (PT), ex-vereadora e suplente de deputada, destacou a violência que sofreu na Câmara de Cuiabá. As duas cassações ilegais que enfrentou são, segundo ela, mais um exemplo da violência contra a mulher em Mato Grosso, estado que ocupa a liderança nesse tipo de ocorrência.
“Não estamos falando de casos isolados, mas de uma estrutura social que sistematicamente violenta as mulheres em todos os espaços onde elas estiverem. As mulheres sofrem violência em casa, nas ruas, no mercado de trabalho, e, obviamente, no momento em que elas ocupam o espaço da política”, disse.
Ela argumentou que a violência moral, à semelhança da violência física, tende a se intensificar quando a vítima reage, ilustrando com sua própria experiência.
“É a reação das mulheres que leva os homens a assassiná-las. Nos outros espaços é a mesma coisa. Houve uma tentativa de assassinato moral da minha pessoa, da minha trajetória, uma tentativa clara de silenciamento de um impedimento que eu continuasse a ter espaço de fala nessa política hegemonizado por homens brancos”, disse.
Ela ressaltou a influência do racismo estrutural nas decisões da Câmara e do Judiciário em relação ao seu processo de cassação, destacando o papel das instituições em reforçar esse cenário. Enfatizou ainda que, desde a sua cassação, diversos vereadores se envolveram em situações que poderiam resultar no mesmo desfecho, mas nenhuma medida foi adotada.

“Por que há tanta desigualdade na forma de tratamento? Porque o poder é constituído pelos homens e homens ali têm as suas alianças para impedir que eles sofram um processo como eu sofri”, afirmou.
“É muito difícil ser uma mulher negra e um espaço em que a política nunca foi pensada por nós e ao entrarmos nela um homem branco deixou de ocupar aquela vaga que a mulher preta está ocupando. Trata-se disso”, declarou.
A suplente de deputada relacionou o baixo índice de participação política das mulheres ao aumento da violência contra elas. Ela destacou que a Assembleia Legislativa, em 190 anos de história, teve apenas 20 deputadas. Ela ressaltou que, ao longo de 190 anos, a Assembleia Legislativa teve apenas 20 deputadas.
“Isso é um absurdo. Como podemos falar em democracia se metade da população do estado está submetida à violência e à interdição para participação na política?”, disse.
Ela enfatizou que, apesar da violência sofrida, optou por continuar na política.
"A política é um componente essencial da minha vida. Renunciar a isso por ter sido violentada e machucada seria renunciar a mim mesma. Para mim, política não se resume apenas a um mandato; é o meu lugar no mundo neste tempo, nesta História, e o que desejo fazer enquanto pessoa", declarou.
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