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Sophia Cardoso

Trabalho precarizado acentua desigualdades no país para as mulheres negras

Efeitos da pandemia agrava a vida das mulheres na pandemia, principalmente das mulheres negras

Já são mais de 533 mil mortos por Covid-19 no Brasil provocadas pelo descaso do governo Bolsonaro. Se de um lado, milhares perderam a vida, do outro milhões de pessoas continuaram a trabalhar sem isolamento social, por sobrevivência, o que acentuou ainda mais o abismo de desigualdades sociais que existem no Brasil. Em ambos, a população negra é a mais afetada, principalmente as mulheres.


Em 1 ano e 4 meses de pandemia, todos os dias trabalhadoras e trabalhadores tiveram que deixar suas casas para atuar em diferentes frentes de trabalho, saúde, comércio, transporte, trabalho doméstico, entre outros. E neste cenário, as mulheres estão na linha de frente dos trabalhos fundamentais.


As desigualdades vivenciadas pelas mulheres negras se dão em vários espaços da vida cotidiana, principalmente sendo um país que tem o racismo nas suas entranhas estruturais. Não por acaso, o trabalho doméstico é de maioria feminina e negra. E essa categoria foi a mais impactada com os efeitos na pandemia, em 2020 mais de 75% das trabalhadoras estavam na informalidade.


“Esse agravamento acontece agora não só no sentido da pandemia, da saúde, mas também no da vida das pessoas. E as trabalhadoras domésticas, como sempre, por serem de uma categoria que a sociedade insiste em não reconhecer o valor, sofrem mais. São mais de 1,5 milhão de trabalhadoras domésticas desempregadas durante a pandemia, é a terceira categoria mais afetada pela crise”, aponta Luiza Batista, presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).

Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisa o impacto da pandemia entre profissionais de saúde, a pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19, apontou que a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores e que a Força de Trabalho durante a pandemia é majoritariamente feminina (77,6%). Os dados da pesquisa revelam, ainda, que quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo desta crise mundial de saúde, com jornadas para além das 40 horas semanais, e um elevado percentual (45%) deles necessita de mais de um emprego para sobreviver.


A pesquisa divulgada em março deste ano, também apontou que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid-19, e o principal motivo, para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso de Equipamento de Proteção Individual (EPIs). Para Luzia dos Santos Alves, 58 anos, agente comunitária de saúde, de São Mateus (ES) – cidade com pouco mais de 130 mil habitantes, desde o início da pandemia até os dias de hoje, as trabalhadoras da saúde que atuam nas unidades de saúde do município não dispõem de EPIs. “Não temos equipamentos de proteção individual na unidade de saúde, usamos máscaras de pano”, afirma.


Mulher negra e profissional da saúde há 19 anos, Luzia atende 180 famílias, algo em torno de 750 pessoas. Ela relata que durante a pandemia, o trabalho ficou mais difícil, apesar de realizarem a maior parte dele de forma online, com acompanhamento, marcação de exames. “Fazemos um trabalho de prevenção. Só vamos na casa das famílias quando é necessário, mas enfrentamos muito preconceito. Estamos trabalhando na Unidade Básica de Saúde e vejo todos os dias como é grande a quantidade de casos de Covid”. Luzia observa ainda, que é visível que o atendimento de mulheres negras e pessoas brancos é diferente. “As vezes o branco é melhor atendido que o negro, que a negra”.

Militante do PT há mais de 30 anos, Luzia também observa que nesse período de pandemia viu a situação das famílias piorar. “As pessoas estão passando muita necessidade, é muito desemprego, miséria, crianças fora da escola, sem brincar. Muita violência contra as mulheres, aumento do feminicídio em São Mateus”.


 

Catadoras


Outra categoria bastante impactada pelos efeitos devastadores da pandemia, estão as catadoras de materiais recicláveis, que movimenta mais de 7% da economia do país. A estimativa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) é que existam cerca de 800 mil catadores e catadoras em atividade no país, a maioria mulheres, cerca de 70% da categoria. “Fazemos um trabalho social e profissional, que gera renda e trabalho”, aponta Claudete Costa, que integra a coordenação nacional do MNCR, é vice-presidente da Unicopas e de outros coletivos organizados de catadores no Rio de Janeiro.


A maioria da categoria parou de trabalhar no dia 19 de março. A partir disso, o Movimento iniciou uma campanha de solidariedade para catadores de todo o país. “Promovemos uma campanha de solidariedade nacional, pra atender os catadores organizados, os de rua e os de lixão. Com isso conseguimos atender toda essa classe, ficamos de abril até dezembro vivendo da campanha, que envolveu muita pessoas”, informa Claudete Costa, que pegou Covid no início da pandemia.


No entanto, com o agravo da situação, muitas cooperativas fecharam as portas. “Perdemos muitas pessoas pra Covid, muitas cooperativas fecharam, em fevereiro deste ano começamos a voltar, mas aos poucos e tomando muito cuidado. Muitos de nós somos moradores de periferia, 98% das pessoas que estão à frente das cooperativas são mulheres e são mulheres negras em sua maioria também e isso teve um impacto muito grande nas famílias”, conta Claudete, que é militante do PT e foi candidata a vereadora nas últimas eleições.


Com a acentuada desigualdade social, Claudete também conta que na pandemia começou a ser mais evidente o racismo estrutural que faz parte do Brasil. “Essa pandemia é uma desgraça, mas principalmente pra mim me fez estudar e entender o racismo, seus problemas e nos reafirmar nos espaços que ocupamos, porque a luta não é uma coisa individual, ela é coletiva”.


Da Redação, Elas Por Elas


Fonte: PT Nacional

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