Referência do movimento negro de Mato Grosso, a professora e doutora em Educação, Zizele Ferreira dos Santos, comemorou os percentuais alcançados pela candidata a deputada estadual Edna Sampaio (PT) nas pesquisas de intensão de voto.
Integrante do Coletivo Negro Universitário UFMT, ela é também presidente do Conselho de Políticas de Ação Afirmativa da UFMT e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (NEPRE).
A professora critica a naturalização da ausência de mulheres nos espaços de poder e afirma que esta representatividade é reivindicada por elas desde o contexto da escravização, pois nunca aceitaram o lugar de subordinação.
Para Zizele Ferreira, a candidatura de Edna Sampaio é um exemplo do caráter propositivo e qualitativo da ação política das mulheres negras, cujo debate é feito a partir das lutas coletivas do movimento.
“Edna demonstra aquilo que temos exigido: o alcance de mulheres com trajetórias de luta ocupando espaços decisivos, ouvindo seu povo. Sempre estivemos à frente, mas produzir a partir desse espaço de decisão política tem sido um avanço no país todo. Um avanço ainda pequeno, mas com imensa qualidade”, afirmou.
Para a pesquisadora, o perfil combativo frente às agressões racistas tem feito com que Edna cresça nas intenções de voto e sua ação na Câmara tem um sentido educativo.
“É pedagógico ouvir uma parlamentar preta que demanda ações de combate à desigualdades históricas, sejam elas raciais ou sociais. Ela sobe nas pesquisas porque se mostrou preparada, mesmo quando vista por um processo violento, racista e patriarcal, que acha que ela não combina com esse espaço”, disse ela.
Em sua opinião, a presença de mulheres na política amplia a discussão das pautas em debate na sociedade.
“Deveriam os partidos e governantes se portarem de modo mais honesto e disponível, pois nós não somos ‘de fora’ nessa trincheira de luta por um país democrático, sem racismo e que procura superar a pobreza”, comentou.
Silenciamento
Ferreira comentou também o contexto atual, em que as estratégias de silenciamento das mulheres negras se tornam cada dia mais sofisticadas, retroalimentando o racismo por meio de discursos explícitos de ódio.
Mesmo ocupando espaços de destaque no imaginário popular, e lugares significativos para as organizações da sociedade civil, elas ainda são sub-representadas em espaços de decisão política, onde sua presença fará a diferença.
“Temos avançado, conquistado espaços como mulheres negras em processos
organizacionais, sobretudo, nas últimas décadas. Para tanto, observe as grandes lideranças pretas que temos nesse país desde Dandara, Tereza de Benguela, Mãe Bonifácia, dentre tantas outras”, comentou ela.
“Queremos Edna Sampaio e outras pretas lá nos mais altos escalões para promover
mudanças no exercício do poder, melhorar em muito as condições de acesso e participação das mulheres nessas esferas”.
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