Alan Teixeira de Lima, representante das pessoas que vivem em situação de rua em Cuiabá, foi o palestrante da tribuna livre na Câmara Municipal, na sessão ordinária desta quinta-feira (5), a convite da vereadora Edna Sampaio (PT).
Ele relatou o cotidiano de vulnerabilidade desta parcela da população, para a qual faltam políticas públicas que realmente promovam a inclusão social.
Lima pediu aos parlamentares e ao poder executivo que se sensibilizem com a situação destas pessoas e cobrou ações que “nunca saíram do papel”, como a instalação de banheiros públicos para uso da população de rua. Ele cobrou também políticas com recorte de gênero e denunciou o cotidiano de violência – sobretudo, violência policial - com o qual a população convive.
“Precisamos apoiar a situação das mulheres que estão em vulnerabilidade nas ruas, buscar a saúde para população de rua. Não há suporte para nos amparar, não temos segurança adequada para lidar conosco, temos espancamento nas ruas”, disse ele.
A liderança cobrou investimentos em educação e moradia e relatou sua preocupação com a exposição da população em situação de rua à contaminação pela Covid-19.
Lima apontou a necessidade de espaços de atendimento onde possam receber orientação, alimentação, encaminhamento para o emprego e cuidados médicos. E citou a falta de retorno por parte da Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência, com quem o segmento tem tentado dialogar.
“É complicada a situação de vulnerabilidade na qual estamos vivendo”, avaliou, destacando a pandemia. “Temos o coronavírus aí e quando é que você viu entrar em um hospital alguém da população de rua? Sabe por quê? Porque ninguém segura na mão dele, ninguém dá um abraço nele, ninguém o convida para entrar em sua casa ou mesmo em um restaurante. Sabe o que isso significa? Exclusão social”, disse.
Ele também cobrou a organização do alojamento da população de rua, apontando a ineficácia das políticas existentes.
“Albergue não muda a história de ninguém, marmita, só marmita, não muda a história de ninguém, cobertor não muda nada a condição das pessoas em situação de rua. Até hoje, não houve um plano específico para a população de rua a não ser albergue, marmita, roupa. Nós não queremos só isso, queremos políticas públicas dos direitos”, disse ele.
Edna Sampaio (PT), que tem visitado a população de rua da capital, disse que já recebeu diversas denúncias de agressão, algumas delas tendo como autores policiais. Outro problema colocado foi a exposição da população de rua às drogas.
Ela reconheceu o trabalho social feito pela prefeitura, mas cobrou a criação de políticas públicas mais efetivas.
“Não há nenhuma diferença entre estas pessoas e qualquer um de nós, que ocupamos este espaço da Câmara Municipal. Elas são as principais vítimas de uma sociedade muito desigual e que trata determinados seres humanos como não humanos”, disse ela.
“Elas acordam sendo espancadas, enxotadas de onde estão, estamos dando a estas pessoas a crueldade daqueles que não foram educados para viver em sociedade e que utilizam as pessoas em situação de rua para suas maldades, suas violências”, comentou ela.
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