De volta às atividades da Câmara Municipal de Cuiabá, a vereadora Edna Sampaio (PT) deu prosseguimento nesta quarta (16), quinta (17) e sexta-feira (18) à entrega das moções de aplauso a lideranças negras da capital, que foram designadas por ocasião da Semana da Consciência Negra.
Foram homenageadas pela vereadora 45 personalidades, indicadas por coletivos e organizações não governamentais da capital, em reconhecimento ao seu trabalho em defesa dos direitos da população negra.
A vereadora afirmou que pretende repetir este ano a programação da Semana da Consciência Negra, assunto que tem discutido com o presidente da Câmara, o vereador Juca do Guarana Filho.
“Temos por compromisso em nosso mandato dar visibilidade às pessoas negras e às que lutam por uma sociedade sem racismo. Por isso, fizemos um edital, durante a Semana da Consciência Negra, para que as entidades indicassem pessoas que têm relevância nessa nossa luta. A quantidade de nomes indicados foi muito grande e estou muito feliz em poder fazer estas homenagens”, disse.
No último domingo (13), ela esteve entregando moções aos indicados pelas comunidades do Quilombo de Mata Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento, e, durante esta semana, recebeu outras lideranças na Câmara Municipal para realizar a entrega.
Entre elas, os indicados pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiro, Indígena e de Fronteira Maria Dimpina Lobo Duarte (NUMDI), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), como é o caso da professora e pesquisadora Ãngela Maria da Silva.
“Esses reconhecimentos não são individuais. Eu sou porque muitas outras foram e são. E esta minha jornada, desde a militância, muito jovem, até me reencontrar na religião de matriz africana, foi uma construção identitária muito importante para mim e é outro eixo de luta que nos toma em um processo de reencontro com nossa essência africana, seja em que matiz de cor estivermos. Ancestralidade é isso: é quando vêm nos dizer e lembrar de onde viemos e para quê. Muito obrigada!”, afirmou a Ângela Maria.
“Para mim, é um marco histórico porque vem como reconhecimento de um núcleo de pesquisa para outro. Segundo por estar junto com a professora Ângela, colega de núcleo, e vindo de uma vereadora negra, que deu visibilidade à pauta antirracista. Precisamos tomar cuidado com o discurso da excepcionalidade porque nosso povo negro tomou conta dos processos políticos tradicionais há muito tempo”, opinou a professora e pesquisadora Zizele Ferreira, outra homenageada.
Ela salientou que defender a pauta antirracista não é ter pauta única, já que o racismo permeia todas as relações de poder. “O racismo fundamenta a não aceitação de todas as diferenças, então esta é a pauta, porque o racismo é o cerne das desigualdades sociais”.
“Estou muito honrado em estar aqui, pois estamos em 19 campi, 18 cidades e sabemos o quanto a educação no Brasil é racista. Como Kabengele Munanga diz, não se nasce racista, torna-se racista a partir dos processos formativos, na escola e na família e o IFMT, enquanto política pública, deve encarar a sociedade racista e fazer uma educação plural, diversa, onde homens e mulheres negras possam se sentir em paz e que não tenhamos currículos de morte”, disse o pesquisador Lucas Santos Café, integrante do Numdi, um dos homenageados.
A vereadora também recebeu lideranças quilombolas, como a professora Laura Ferreira da Silva, líder da comunidade da Mutuca e integrante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ).
“Esse belíssimo projeto reafirma a legitimação de direitos e a visibilidade da mulher negra e da população quilombola dentro dos espaços de luta para manter a existência de nossos povos. E valoriza todo o nosso processo ancestral, tendo em vista que estamos vivenciando vários retrocessos nas políticas sociais. A moção significa muito para mim e para as 134 comunidades quilombolas que nós representamos”, afirmou.
Para o músico Carlos Augusto da Silva Duarte, o Guto, o reconhecimento é uma conquista. “Isso é mais do que um papel, é muito representativo. É uma forma de valorizar minha arte, o que eu venho fazendo, indica que estou no caminho certo, que tem pessoas que gostam do meu trabalho. A Edna é espetacular e eu fico realmente encantado por ela estar visibilizando as pessoas pretas”, comentou.
Outra homenageada, a professora Maria do Espírito Santo Carneiro Kaefer, que também é covereadora do Mandato Coletivo pela Vida e por Direitos, citou o reconhecimento da vereadora à luta das mulheres negras.
“Essa moção vem fortalecer mais nosso coletivo, nossa união e também dar visibilidade a mim enquanto mulher negra. Sabemos que temos uma luta muito grande pela frente e ela é infinita. Começamos há muito tempo, acho que já nasci lutando pela vida, por uma posição na comunidade. Esse modo de fazer política da Edna é muito interessante e importante, quero só agradecer”, disse.
Outra indicada, a integrante do Fórum Mato-grossense de Mulheres Negras e professora Euza Maria de Araújo, relatou sua satisfação pelo reconhecimento ao trabalho social que realiza desde os anos 1990.
“Desde o início da minha carreira, em sala de aula, sempre me preocupei muito com o social, com as políticas públicas que não chegam a quem precisa. É muito importante ser lembrada por um trabalho que realizamos há muitos anos, voluntariamente”, comentou.
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