A vereadora Edna Sampaio (PT) realizou, na noite desta quinta-feira (23), a terceira roda de conversas do projeto com mulheres participantes da ação “Mais Mulheres na Política”, no espaço Manga Preta, em Cuiabá.
As mulheres discutiram sobre a desigualdade de gênero, suas origens e suas consequências, a partir dos dados trazidos pela professora Dejenana Campos, docente do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).
De acordo com dados apresentados por ela, o Brasil ocupa o 92º lugar em termos de igualdade de gênero e, em 2018, as mulheres dedicaram aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos cerca de 73% a mais de horas do que os homens, destacando-se as pretas e pardas, que são maioria (56%) entre as gestantes e puérperas infectadas por Covid, as internadas (48%), as que precisaram ser levadas para a UTI (47%) e as que morreram pela doença (54%).
Segundo a vereadora, o projeto visa estabelecer um espaço de diálogo com as mulheres. “Nosso mandato é de uma mulher negra, que tem consciência, junto com outras mulheres que constroem este mandato, das peculiaridades de sermos mulheres, e das dificuldades que encontramos para estar nestes espaços da política, abrindo espaço para que as vozes das mulheres sejam ouvidas”, disse.
“Essa é a terceira reunião que fazemos e, ao final, teremos uma agenda das mulheres para as eleições de 2022, não somente das políticas públicas, pois elas são o resultado de uma coisa que vem antes: as relações de poder entre os gêneros. A distribuição e a apropriação do poder é muito desigual em nossa sociedade e as mulheres acabam sendo excluídas da possibilidade de decidir sobre suas próprias vidas”.
As mulheres discutiram os impactos da sociedade eurocêntrica, o modelo do colonizador, que traça uma verticalização das relações. “E nossos corpos pretos e femininos, sejamos trans ou não, são alvos preferenciais. O tempo todo estamos em alerta e não temos sossego em lugar nenhum e nenhum cargo público importante nos protege das violências que nos impõem. Vimos isso agora com a procuradora, que foi espancada dentro do ambiente de trabalho, com todo o aparato tecnológico que temos hoje, onde o ato foi filmado e o agressor não se sentiu intimidado”, disse a bióloga Tafnys Hadassa, que é co-vereadora do Mandato Coletivo pela Vida e por Direitos.
“Se vivemos em uma sociedade onde um homem se sente seguro para violar uma mulher em plena luz do dia sendo filmado, o que podemos esperar dos becos, vielas periferias, favelas de Cuiabá e do Estado? É importante construir essa política horizontal, começar a quebrar. Essa estrutura patriarcal é um processo histórico milenar, mas a gente vai costurando as relações de forma horizontal, como a nossa ancestralidade nos ensina”, opinou.
Elas denunciaram casos de violência ocorridos na comunidade e que vitimam as mulheres. “A política é tudo na nossa vida. Ela que cuida da educação, da saúde, da economia e, muitas vezes, as mulheres falam sem pensar e, na época das eleições, um homem acaba levando o seu voto e ficamos à mercê de diversas situações. Quero falar sobre como a nossa comunidade tem sofrido abusos da polícia nos bairros, onde jovens são aliciados pelo tráfico nas barbas da justiça. Tem muitas mães, mulheres, sofrendo com este abusos e, muitas vezes elas próprias são vítimas, apanham da polícia, são insultadas”, disse a professora Joelma Pereira, que, pessoalmente, passou por uma situação deste tipo.
“Precisamos discutir mais isso e tudo isso precisa chegar ao secretário de segurança para que estes abusos cessem de uma vez. A droga só chega às comunidades com a ajuda da lei, então que eles façam seu trabalho, mas o façam de maneira correta”, salientou.
Entre os temas debatidos, a realidade das mulheres migrantes, vítimas de discriminação.
“Elas são muito humilhadas quando conseguem um trabalho. Não pagam o que é devido e ainda as obrigam a ir a pé para o trabalho. Dizem a elas que elas não sabem fazer o serviço e, por isso, não merecem receber todo o salário. Muitas delas não têm com quem deixar os filhos e outras conseguem deixá-los o dia inteiro na escola, mas isso não adianta muito, já que estão desempregadas e, assim, acabam ficando dependentes [...]”, disse Letícia Corrêa da Silva, vice-presidente do Instituto de Recuperação, Proteção e Amparo à Mulher Dependente Química do Estado de Mato Grosso (IRPAMDEQ).
“E as mulheres daqui passam pela mesma situação. Quando são negras é pior ainda. Não só quem está assistido por nós, mas até nós mesmas somos discriminadas o tempo todo. Por isso, precisamos trabalhar isso não só aqui, mas em todos os lugares”.
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